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Tudo Índio (1995)

TEXTO ENCARTE

 

"Tudo Indio" espelha meu caminho percorrido até aqui. Mais um projeto realizado e muitos corações continuam batendo forte nessa mesma estrada. A importância deste sentimento faz com que tudo se torne muito gratificante. Como esquecê-los? Walbert Monteiro, Cristóvam Araújo, Jamil Damous, Nádia Brito, Simon e Ligia Weglinski, Marcos Quinan, Rosely Naves, Liana Soares, Fernando Carvalho, Fernando Merlino, Ricardo França, Rosana Yentas, Graça Almeida, Idan Góes, Luizão, Eudes Fraga, Vital Lima, Marco André, Letícia Carvalho, Mônica Avellar, minha Mãe, meu Pai, meus irmãos, sobrinhos e sobrinhas, João Gomes, minha filha Mirela, meu filho Cauê, joão Alberto Capiberibe, Vanda, João Alfredo Mangia, Cláudio Guimarães, Ruth, todos os músicos, Alan (cafezinho) e o Itaóca Belém Hotel

 

Nilson Chaves

 

FICHA TÉCNICA

 

Produção Musical Nilson Chaves / Fernando Carvalho

Produção Executiva Rosana Yentas / Ricardo França / Nilson Chaves

Mixagem Luis Fernando "Grillo" / Nilson Chaves / Fernando Carvalho

Engenheiro de Áudio Luis Fernando "Grillo"

Engenheiro de Som Renato Pinto Masterização Visom Digital

Assistente de Estúdio Graça Almeida

Programação Visual e Computação Gráfica João Alfredo T. Mangia

Produção Geral Rosana Yentas Produtor Fonográfico Outros Brasis

 

Gravado no M&M Studio (RJ) em setembro e outubro de 1995, em 24 canais.

FAIXAS

 

Tudo índio

(Eliakin Rufino)

 

Eu conheço Wapixana que mora no treze
E ele sabe de outros cem
Que também moram lá
Muita gente índia, muita gente
No conselho indigenista
Macuxi de São Vicente

Tudo índio, tudo parente

Em cada bairro da cidade
Cada tribo tem o seu representante
Os Tuxáuas se reúnem
Toda semana
Na associação do Asa Branca

Tudo índio, tudo parente

Eu conheço Yanomame que vende sorvete
E um predreiro Taurepang que vive de biscate
As mulheres índias
Longe da maloca e da floresta
Sobrevivem como desempregadas domésticas

E os milhares de meninos e meninas
Fazem papel de índio no Boi
Durante as festas juninas

Tudo índio, tudo parente

 

Destino Marajoara

(Nilson Chaves)

 

Quando me dei conta
Eu cantava Amazônia
Era um rio de beleza
Navegando em minha voz
O céu do Marajó
O canto do curió
Baía do Sol, quando dei por mim
Um curumim vibrava aqui
O coração de cantador, sorrir, assim, aqui
Destino Marajoara
Destino Marajoara

Destino
Sina, sina, sina
Ajuruteua, Salinas
Tudo que aprendo me ensina
O prazer de te cantar
Sina, sina, sina
Luar de Mosqueiro fascina
A marujada me anima
Adoro o teu siriá

Quando fiz as malas
Pra correr o mundo
Mergulhei meus olhos
No fogo do teu calor
O límpido igarapé
O Círio de Nazaré
Alter do Chão, não fique distante
Não te esqueci nenhum segundo
Teu amuleto está no mundo
Em mim, aqui, assim

Destino Marajoara
Destino Marajoara
Destino

 

Vê se não demora

(Nilson Chaves, Vital Lima)

 

Olha meu amor se você diz que vai embora
Fico gitinho assim sem você
Todo o arco-íris se desfaz
Chegada a hora
Mas cá-te-espero, que ele volta a aparecer

Olha meu amor se você diz que vai embora
Eu tenho dó de mim sem prazer
Vendo a gaivota solitária em nossa praia
Por Deus me deu uma vontade de te ver

Parece que o tempo tá de bubuia
Parece que não quer passar
Parece que carece ter
A mágica de imaginar
A tua presença no ar
Num outro arco-íris

Olha não me diga nunca mais que vai embora
Não sou feliz assim e sofrer
Não tem nada a ver com o nosso amor
Com a nossa história
E eu quero a correnteza junto com você

 

Marapatá

(Anibal Beça, Armando de Paula)

 

Que doce mistério
Abriga teu dorso
De ilha afogada
No curso das mágoas?
O Velho Bahira
Se mira nas águas
Espelho da lua
Narciso nheengara

É Marapatá, porta de Manaus
É Marapatá, patati patatá

Que mana maninha
Que dança sozinha
Savana de seda
Pavana de cio
Campim canarana
Bubuia banzando
Canção enrugada
Banzeiro de rio

Vá logo deixando
Senhor forasteiro
A sua vergonha
Em Marapatá
Vergonha se verga
Na cuia do ventre
No V da ilhargas
Vincando por lá

Cunhã se arretando
Tesão de mormaço
Abrindo as entranhas
A flor do tajá
E o macho fungando
Flechando, fisgando
Mordendo a leseira
Dizendo: "Ulha já!"


 

Wapixanua

(Neuber, Zeca Preto)

 

Te beijei a boca
Tem gosto de cupuaçu
Me levou pra longe
Pras bandas do boiuaçu
Cruviana arrepiou
Cunhatã me flechou
Curumim segura peito
Batendo tambor

Pra ver a lua do lado de lá
Ter Boavista no céu do cantá
Wapixanua me leva pra feira
Teu cheiro cunhã me buritizeia

Te beijei a boca
Tem gosto de mari-mari
Me trouxe pra noite
Pras bandas co Caburaí
Copenawa assobiou
Piracema chegou
Parixara tá na roda
Cunhã me chamou...

Pra ver a lua...

 

A notícia 

(Celso Viáfora, Vicente Barreto)

 

O "New York Times" não deu uma linha
A "BBC"de Londres nenhuma palavra
Mas ontem no Xingu um índio se afogou
E um guarda-marinha
Se atirou nas águas
Pra salvar a sua vida

Na mesma hora um favelado da Rocinha
Que tinha sete filhos arrumou mais um:
Era menino loiro de olho azul
Que tinha sido abandonado nu
Numa avenida

Gente má,
Gente linda
Dia vem, noite finda
Em todo lugar

 

Sentimentos cintilantes 

(Célio Cruz, Eliakin Rufino)

 

As estrelas que flutuam nesse rio
São os olhos das serpentes encantadas
Cobras grandes habitam dessas águas

E essas luzes que vagueiam pelas praias
Claridades de paixão e de areia
São meus olhos enchendo o chão das várzeas

São dealegria estas lágrimas brilhantes
São diamantes que meus olhos choram
São loucos sentimentos cintilantes

 

O portador 

(Jamil Damous, Nilson Chaves)

 

O portador porta o vírus
E algumas coisas claras:
Um canivete suíço
Uma camisa amarela
Um par d'óculos na cara

O portador porta o vírus
E outras coisas obscuras:
Poemas que ninguém leu
Canções e canções
Que ninguém ouviu
E uma esperança danada

Como moeda em seu bolso
O portador porta a vida
E a morte, seu outro lado
Cara ou coroa? Que importa?
Já conhece essa jogada

Sabe que isso que porta
Não lhe serve para nada
Se com isso não fizer
Aquilo que tá na cara:
Do medo da morte, a vida
Do vírus, uma virada

 

Fazendinha 

(João Gomes, Nilson Chaves)


Fostes feita pra seres do povo
Pelas mãos de um sublime poeta
Onde tudo é o princípio do novo
E o começo da paz que nos resta

Tens no rosto a feição da beleza
E no corpo a alegria da festa
Pelo sol és eleita princesa
Filha moça do rio com a floresta

Vamos sempre sentar na tua mesa
Pra fazermos a ceia completa
Sobre a guarda da ta nobreza
Entre o teu marabaixo e a seresta

Que você tá fazendo, menina?
Vamos pra Fazendinha
Nessa praia em me sinto um rei
Você é minha rainha

 

Petisqueiro

(Eudes Fraga, Renato Gusmão)

 

Nobreza das casas
Nas asas dos sonhos
Enfeitados de bibelô
Num encanto solto petisqueiro
Na sala da casa grande
No fim de um corredor
Em todas as varandas
Rangem as trancas do teu valor

És armário de rei nas cozinhas
Maçaranduba, macacaúba, madeira-de-lei
Dentro de ti petisqueiro
Tem tudo que é louça
Tem pote de barro
Colher de pau, pintura de moça

Quando o galo canta em cima de ti
Quando o galo canta
Rasgando o Sol da manhã
Anunciando a lida
É que se vê petisqueiro
É que se vê petisqueiro
É que se vê petisqueiro
Que já é outro dia

 

Lábios Caboclos

(João Gomes, Nilson Chaves)

 

Porque de mim és retirante
O galho cheio de desejos
Porque de mim ficas distante
Quando ao vento me anuncio
Um beija-flor em pleno cio
Ornado de brisa, florido de orvalho
Um bicho macio

Sei que assim tão longe, longe
Ah! Meu amor que a dor é tanta
Sei que os anseios te invadem
Não são poucos flor da soledad
Sei que sonhas, em meio as tardes
O mel dos trópicos, lábios caboclos
Nos gestos mais loucos dos teus

Ah! No fundo estamos aqui
Vexados de amor
E os corações com jeito de xaxim

Sei que te alumias de mim
Eu também me alumio de ti!

Sei que assim não mais distante
Ah! Meu amor que a paz é tanta
Sei dos anseios que te invadem
Quando ao vento me anuncio
Um beija-flor em pleno cio
O mel dos meus trópicos, lábios caboclos
No gesto mais doce macio

 

Das Águas e das Matas

(Anibal Beça, Torrinho)

 

Jacinto, senhor meu amo
Leva os cuidados no peito
Noite escura venta forte
O melhor é atracação

Jacinto, senhor meu amo
Não te afoites pelo escuro
Lembra sempre os bichos maus
Que no fundo dos peraus
Fazem casa, moradia

Jacinto, senhor meu amo
Não ouça os cantos das águas
É Yara encantando
Não passe junto das ilhas
Mapinguary espreitando
Temos botos tucuxis
São bichos de encantação
Lembra bem a louvação
Da senhora que navega
Igapós e Paranás
Águas claras, águas limpas
Sem qualquer assombração

Jacinto, senhor meu amo
Não demora chegar não...


 

Memória da Tribo

(Eliakin Rufino, Nilson Chaves)

 

Minha vó me chamou:

"Curumim venha cá
Venha ver como pe
O sinal do pajé

Venha cá curumim
Não vá esquecer
Essa tribo é um rio
O destino é correr

Curumim, essa terra
Nunca mais nos pertenceu
Não é de ninguém
Não tem dono
Nem Deus

Curumim venha ver
A panela de barro
O que há pra comer
É um caldo de peixe
Com as sobras do tempo
Cheiro verde, sentimento"

Minha vó me chamou

 

A lua de lumiar 

(Jamil Damous, Nilson Chaves)

 

A lua de Lumiar
Lua que nunca vi
Ilumina todo o mar
Da praia de Araçagi...

Ilumina as dunas calmas
Da praia do Atalaia
Ilumina nossas almas
Minha calça, tua saia

Essa lua que só brilha
Quando nela você fala
Traz o mar e traz a ilha
Pra dentro desta sala

É uma lua quase cheia
Feito a felicidade
É uma lua quase meia
Inteira em sua metade

Metade que só eu vejo
E outra que só você
Juntos vemos num lampejo
A lua que não se vê

A lua de Lumiar
A lua de São Luís
A lua de se chorar
A lua de ser feliz

 

A sereia, A tainha e A tintureira 

(Agripino Almeida Da Conceição "Mestre Agripino")

 

De madrugada quando a lua é cheia
Não se presta pra piraquerá
E a tainha como a sereia
Só são pescadas se tarrafiá

Te esconde, ó lua cheia
Te esconde, ó lua cheia
Pra pescar a Tainha e a Sereia

A tintureira é o cação cantador
Mesmo vivendo no fundo do mar
Até parece que ele tem amor
Por isso mesmo vive a cantar

Te esconde, ó lua cheia
Te esconde, ó lua cheia
Pra pescar a Tainha e a Sereia

 

Na minha juventude

(Julio Fowler, Raul Torres)

 

Deitada sobre mim
Com seu leve corpo
Cheio estrelinhas
Que trouxe do sol

Mas que dirão
Se no céu não está
Senão aqui
E pensarão que na nite
Toda a luz se foi

Nos olhos da cidade
Um silêncio na noite
Daqueles que querem olhar o horizonte

No brilho da metade
Do teu lindo rosto
Eu lembro daqueles
Que vivem dos sonhos

Mas que dirão
Se no céu não está
Senão aqui
E pensarão que na noite
Teu corpo se perdeu
Na minha juventude

 

Sonha tica

(Orestes Mourão)


Sonha, sonha, sonha Tica
Sonha que a gente vai embora
Sonha, sonha, sonha Tica
Sonha com os teus brinquedos

Sonha com o sol
Sonha com a lua
Com as estrelas do céu
Com os bichos da terra

Sonha, sonha, sonha Tica
Sonha que a gente vai embora
Sonha, sonha, sonha Tica
Sonha enquanto é o teu tempo

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©2022 por Ramiro Quaresma.

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