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Interior (1986)

FICHA TÉCNICA

Produção e direção artística: CARLOS DE ANDRADE (CARLÃO)

Técnicos de gravação: DENILSON, LECO E SERGIO LIMA NETO 

Mixagem e masterização: CARLOS DE ANDRADE (CARLÃO)

Assistente de estúdio: TIÃO

Gravado e mixado: MASTER ESTÚDIO

Masterizado: MULTI STUDIO

Fotos: MARCOS AVELLAR capa: JAMIL DAMOUS

Arte final: ADILTON REGINA ALONSO

Glossário: JAMIL DAMOUS VITAL LIMA 

Participação especial: LEILA PINHEIRO (ARTISTA GENTILMENTE CEDIDA PELA POLYGRAM)

FAIXAS

LADO A

 

Flor do Destino

(Nilson Chaves, Vital Lima)

Te amei assim como água de chuva
Que vai penetrando pra dentro do mundo
Te bebi assim como poço de rua
Que eu olhava dentro mas não via o fundo

Tu me deste um sonho
Eu te trouxe um gosto de tucumã
Tu me deste um beijo
E a gente se amou até de manhã
Veio o sol batendo
E nos despertou
Da gente virando terra, mato,
Galho e flor

Água de riacho é clara e limpinha
Mas às vezes turva com a chuva violenta
Teu amor é um papagaio que xina
Dentro do silêncio da tarde cinzenta
E o amor é um rio
Profundo rio
De muitos sinais
Onde os barcos passam
Conforme o vento deseja e faz
Ai que ainda me lembro
Disso que ficou
Da gente virando terra, mato,
Galho e flor

Outro interior

(Fernando Carvalho, Vital Lima)

Brilhar como estrela
Lá do interior
Tomar dela a luz
A cor
Pra mim
Pras pessoas

Abrir os caminhos
Não ter medo
Pra amar nunca é muito cedo
Triste é estar sozinho

Um coração
Vela na escuridão
Lembra minha cidade
Do interior
Guarda da solidão
Mas que me enche o peito
De saudade

Pelo que ela me traz
Pelas recordações
Pelo que eu quero mais
Ser feliz.

Do nada prà lugar nenhum 

(Sá e Guarabyra)

Lembro de quanto tudo era doce
Lembro de quando tudo era vivo
Dentro de dois a força de ser só um

Hoje te vejo assim espantada
Como perdida em uma ilha e essa estrada
Que vai do nada pra lugar nenhum

Lembro da gente sempre bem perto
Por um caminho curto e direto
Atravessando os mares sem medo algum

Hoje te vejo em destino incerto
No meio desse imenso deserto
Que vai do nada pra lugar nenhum

O que será que existe dentro de nós dois
Além daquela vontade
Descobrir a verdade antes de tudo

O que haverá no muro d´entre nós dois
Além daquele espaço estranho
Escuro e mudo

Não há tristeza mais dolorida
Do que ter tido tudo na vida
E de repente perceber que é comum

Ser mais uma pessoa enganada
Ver o rumo confuso da estrada
Que vai do nada pra lugar nenhum

O que será que existe dentro de nós dois ...

Tum Tá Tá 

(Walter Freitas)

Ei, nené,
São rãs e sapos
No quintal vazio
Ei, nené,
São chuvas finas
Na beira do rio
Um bicho brabo nas brenha
Prás bandas lá da mucajá
Neném, a ginga das "égua"
Na noite preta, tum-tá-tá

E é tanto terço
No roxo frio
Tum-tá-tá
São sete embalos na rede navio

Um tiro longe,
Quem fere prás bandas lá da mucajá?
Neném, teus "filho" no mundo
Na noite preta, tum-tá-tá

Mata de mata que na terra de tua saia,
Menina, mãe d´água aguou
Terra de terra que na mata de teu cabelo
Rescende cheiro-cheiroso, chuva, funga que fungou
Rio de rio que na maresia dos olhos,
Menina, desembocou
Noite de noite que na cabeçeira da ponte se afoga
Peixe bubuia, moça, caboco emprenhou

Um pau-de-arara, silêncio,
Prás bandas lá de mucajá
Tum-tá-tá morto, matado
Na noite preta, tum-tá-tá

Ei, neném. adeus, quem dera
Velas, ai marés
Ei, neném, rio acre, o mundo
Ai igarités

Preta tu não "tem" medo
Tu não "tem" guia manicoré
Flor, flor dos aramados
Ferpa, farpado, seu coroné


 

Muruci 

(Vital Lima)

O sol é um muruci, menino,
na asa do avião
brilha na escuridão do meu destino
e cabe nesses teus olhinhos de mágoa
E aí faísca de luz, menino,
nos oceanos onde o meu amor deságua
tingindo e enchendo a minha boca de água.

 

Parecendo um farol alumiando o mar
um candeeiro lá do interior
que arde que nem o amor, menino,
- pimenta-de-cheiro.

 

E eu que te amei assim
de ver o sol brilhar igual ao muruci
(que eu gosto tanto!)
senti travasse assim na minha boca
o beijo que eu guardei pra ti.

 

LADO B

Tempodestino

(Nilson Chaves, Vital Lima)

há entre o tempo e o destino
um caso antigo, um elo, um par
que pode acontecer, menino,
se o tempo não passar?

Feito essas águas que subindo
forçaram a gente a se mudar
que pode acontecer, meu lindo
se o tempo não passar?

O tempo é que me deu amigos
e esse amor que não me sai
que doura os campos de trigo
e os cabelos de meu pai
faz rebentar paixões
depois se nega às criações
e assim mantém a vida
(Que acontecerá aos corações
se o tempo não passar?)

Não mato o meu amor, no fundo,
porque tenho amizade nele
que já faz parte do meu mundo
do tempo entre eu e ele

Olho de boto

(Cristovam Araujo, Nilson Chaves)

E tu ficaste serena
Nas entrelinhas dos sonhos
Nos escaninhos do riso
Olhando pra nós escondida
Com os teus olhos de rio

Vieste feito um gaiola
Engravidado de redes
Aportando nos trapiches
Do dia a dia e memória
Com os teus sonhos de rio

E ficaste defendida
Com todas as suas letras
Entre cartas e surpresas
Recírio, chuva e tristeza

Vês o pesa da tua falta
Nas velas e barcos parados
Encalhados na saudade
De Val-de-cans ao Guamá

Porto de sal das lembranças
Das velhas palhas trançadas
Na rede de um outro riso
Às margens de outra cidade
Ah, os teus sonhos de rio!

Olho de boto
No fundo dos olhos
De toda a paisagem

 

Interior

(Nilson Chaves, Vital Lima)

E bem depois que a chuva caiu
Ainda o cheiro de terra encharcada
Tua solidão e tua boca molhada
O coração, de novo, armando outra emboscada
E o nosso interior comendo estrada

Beber do poço pela primeira vez
Cochicha-me tua boca a frase guardada
Vaca que emprenha a sua primeira rês
Medo de dizer o que não sabe a manada
E o nosso interior bebendo estrada

Um lampião nos levará pra casa
Sua luz lumiará teu coração também
E quando for a hora de eu ir embora
Não chora, espera,
Que sempre chega um outro bem

A seu jeito

(Sérgio Limanetto, Vital Lima)

Tudo é alma, é coração
No que chega uma paixão
Quando menos se espera
É um lampejar de beleza
Um caminhar docemente
Um passo lento de fera.

Quando ela chega - a paixão
E se agarra em nós silente
Feito marisco na pedra
A Natureza festeja
Termos ficado mais perto
Da terra de onde ela medra.
Quando isso me acontece
Só o silêncio me basta
Quanto mais quero a certeza
Mais a certeza se afasta.
Vive a paixão de meu peito
E ruge sua voz de leoa
Faz-me feliz a seu jeito
E só depois me caçoa.

 

Estrado do sertão

(João Pernambuco)

Coisa que não arrenego
nem tão pouco desapega
ter gostado de você
foi gostar desenchavido
encruado e recolhido
de ninguém se aperceber

Matutando vou na estrada
nos meus óios a passarada
faz um ninho pra você
juriti espreita triste
a jandaia não resiste
chora junto por você

Nos teus óios faz clarão
é um verde, um azulão
tiê sangue furta cor
que me dá desassossego
que me suga que nem morcego,
mangando que é beija-flor

Não me encrespe a vida assim
já me basta o que de mim essa vida caçoou
não me faz essa graçola
de me abrir essa gaiola
pra depois não me prender.

Canta firme juriti
vê se entoa uma canção
sabiá me roça aqui
bem junto do meu coração
pousa aqui meu colibri
vê se tu tem pena d´eu
quero ser teu bacuri
quero ser de vóis meçê

Quanto mais me desfeiteia,
me despreza, mais me arrasto pra você.

Das frutas

(Jamil Damous, Nilson Chaves)

Açaí,
Tua boca rochinha de paixão.
Murucí,
Que saudade de ti no maranhão.
Burití,
Vermelinho da cor do coração.
Bacuri,
Fruta flor, puro odor
Que sensação...

 

Taperebá,
Eu não vou, eu não vou, eu vou cantar outra rima.
Maracujá,
Bem cheirosa e gostosa tanto quanto a cima.
Jacajá,
De traz pra frente me alucina.
Cupuaçu,
Tão branquinho na tua língua.

 

Jambo, caju, graviola
Tem o tom de uma canção,
Que tem sabor...

 

Pitanga, manga rosa, mangaba, ingá,
Pupunha, piquiá, carambola e araçá.
Ajiru, birimbá, tucumã e saboti.
Cajuí, bacaba, abil e goiaba.

 

Taperebá,
Eu não vou, eu não vou, eu vou cantar outra rima.
Maracujá,
Bem cheirosa e gostosa tanto quanto a cima.
Jacajá,
De traz pra frente me alucina.
Cupuaçu,
Tão branquinho na tua língua.

 

Jambo, caju, graviola
Tem o tom de uma canção,
Que tem sabor…

GLOSSÁRIO

 

A

AÇAÍ (Euterpe oleracea): Fruto de palmeira com que se faz um suco de cor arroxeada, muito consumido pelas populações mais pobres e apreciado por todo paraense. Do açaí também se faz sorvete.

 

B


 

BACABA - (Oenocarpus multicaulis) Outro fruto de palmeira semelhante ao açaí, de cor mais clara. 

BACURI - (Platonia insignis) Fruto de casca dura e polpa branca amarelada, ideal para a preparação de cremes e sorvetes.

BIRIBA - (Annona lanceolata) Fruto assemelhado à graviola.

 BUBUIA - Ação de bubuiar (flutuar sobre as águas). Coisa leve e flutuante. "De bubuia": boiando ao sabor da corrente. 

BURITI - (Mauritia vinifera) Fruto de casca escamosa, de cor avermelhada, ideal para o preparo do apreciadíssimo "doce de buriti".

 

C

 

CHEIRO CHEIROSO - Perfume belenense feito de ervas e raízes cheirosas.

CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum)- Fruto de casca dura, com sementes cobertas por uma polpa aromática, muito usado para compotas e refrescos.

 

E

 

ESSE PEQUENO - Expressão que substitui os pronomes de tratamento "ele" ou "ela" (essa pequena).

 

G

 

GAIOLA- Embarcação típica dos rios da Amazônia. Transporta passageiros, acomodados em redes armadas no convés, que se entrelaçam e se superpõem, em grandes quantidades. São comuns os acidentes fatais, devido à superlota

 

GUIA MANICORÉ - Um tipo de amuleto, talismã.

GUAMÁ -Nome do rio que banha Belém.

I

 

IGARITÊ- Pequena embarcação de um mastro.


 

M

 

MALINAR  - Maltratar.

MUCAJÁ -Rua de Belém.

MURUCI OU MURICI (Byrsonima) - Pequeno fruto de cor amarela. Muruci no Pará, murici no Maranhão.

 

O


 

OLHO DE BOTO- Amuleto feito do olho desse cetácego que habita os rios da Amazônia. Muito vendido na feira do Ver-O-Peso.


 

P

 

PAPAGAIO- O mesmo que pipa.

PIMENTA DE CHEIRO- Pequeno fruto amarelo, picante e de odor agradável, indispensável tempero nos pratos da cozinha paraense. 

PEQUIÁ (Caryocar Brasiliense) - Fruto que se caracteriza por sua oleosidade. 

PUPUNHA (Guilielma speciosa) - Fruto de palmeira, não adocicado. Cozido, é muito apreciado no acompanhamento do café preto.

 

R

 

RECÍRIO- A festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a maior procissão religiosa do Brasil, realizada todo segundo domingo do mês de outubro em Belém do Pará, possui três momentos característicos:

 

A) a Transladação: pequena procissão noturna que leva a imagem da santa da Capela do Colégio Gentil Bittencourt para a Catedral de Belém e marca o início dos festejos. 

B) o Círio: realizado na manhã seguinte à Transladação, Transporta a imagem da Catedral de Belém para a Basílica de N. Sra. de Nazaré. 

C) o Recírio: encerra os festejos quinze dias após a realização do Círio. Consiste em outra pequena procissão, desta feita para fazer retornar a imagem à Capela do Colégio Gentil Bittencourt. É natural, portanto, que o termo Recírio apareça carregado de conotações de fim de festa, de tristeza do vazio que se instala.

 

T

 

TAPEREBÁ (Spondias lutea) - O mesmo que cajá. Pequeno fruto bastante ácido, muito usado para refrescos.

TUCUMA (Astrocaryum tucuma) - Fruto de palmeira, de cor avermelhada. 

TUM-TÁ-TÁ - Onomatopéia do som de tambores

 

V

 

VAL-DE-CANS - Nome do local onde está instalado o Aeroporto Internacional de Belém e que durante a segunda guerra serviu de base para os aliados.

 

VER-O-PESO - Feira localizada às margens da Baía de Guajará, em Belém, onde se encontra desde a comida típica até o artesanato local, além de coisas curiosas como amuletos e banhos feitos de ervas amazônicas que, de acordo com a crendice popular, servem a várias finalidades.

 

X

 

XINA (ou CHINA) - Do verbo "xinar". Movimento do papagaio (pipa) em direção ao chão, após o rompimento da linha que a mantinha ligada às mãos do empinador.

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©2022 por Ramiro Quaresma.

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